quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Ibitipoca Off Road: 400km de adrenalina, histórias e belezas

Enduro de regularidade que passa por Juiz de Fora, Lima Duarte e Conceição do Ibitipoca chega à sua 29ª edição



Surpresas no percurso, histórias para contar aos filhos, netos e familiares e a companhia de centenas de apaixonados por enduro de todo o país em dois dias de trilhas – três de evento – com mais de 400km dos mais variados tipos de terreno num cenário em que a natureza está no comando. O Ibitipoca Off Road (IOR), rali de regularidade com largada e chegada na Faculdade Suprema (Alameda Salvaterra, 200, Salvaterra) em Juiz de Fora com pernoite em Conceição de Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, chega à sua 29ª edição num momento de pico em sua trajetória. O evento mais charmoso do Brasil, como é carinhosamente apelidado, acontecerá no próximo fim de semana, nos dias 3, 4 e 5 de agosto, e nunca foi tão procurado: houve recorde de inscrições nas motos – 500 participantes, além de 120 pilotos e navegadores nos carros.


As provas (ver quadro), marcadas para o sábado (4) e o domingo (5), reúnem, sobre duas rodas, pilotos nas categorias Brasil, Dupla Graduado, Dupla Júnior, Dupla Novato, Dupla Over 35, Estreantes, Feminino, Júnior, Master, Novato, Over 40, Over 45, Over 50, Over 55, Pais e Filhos e Sênior, e são válidas pelo Campeonato Mineiro de Regularidade e pela Copa Estrada Real. Já sobre quatro rodas há disputas nas categorias Graduado, Master, Passeio Pais e Filhos, Turismo e Turismo Light (4×4 e 4×2), fazendo parte do calendário do Novo Rally Minas Gerais.

Mais que uma competição, o desafio de pura adrenalina em cenário de rara beleza natural atrai centenas de pilotos por todo o país. Há quem formate a agenda no trabalho pensando em estar na cidade para a disputa. É o caso do oceanógrafo Robert Schmitt, 59 anos, que contabiliza 14 participações no IOR nos últimos 15 anos. “Procuro não perder nenhuma prova e inclusive tento fazer minha agenda em função do Ibitipoca. Tento mudar viagens, rotinas de trabalho, mas vale a pena. Para mim, Ibitipoca tem um glamour, é imperdível. Já aconteceu de eu chegar no Aeroporto do Rio de Janeiro no dia da prova, pegar um carro e chegar aqui na hora da largada. Troquei de roupa dentro do carro, deixaram a planilha pronta com a moto para mim e com um, dois minutos atrasado conseguir terminar a prova cansado, após viagem ao exterior, mas satisfeito. E me cobro no resultado. É imperdível e desafiador. Nunca se deve subestimar o Ibitipoca”, exalta Robert.


Em 2018, o profissional, que já acumula cinco troféus nas categorias Over 50 e Over 55 (acima de 50 e 55 anos, respectivamente) deixou o mar para correr em dupla com o parceiro Edimilson Araújo na faixa etária acima dos 35 anos. “Correr em dupla é sempre interessante porque quando você está sozinho tem um desafio entre você e a máquina. Mas quando corre em dupla, é você e o seu companheiro. E o fato de correr junto, a aproximação e coordenação dos dois pilotos é muito mais difícil.”

Soma-se isto ao palco do evento, principal atrativo de pilotos de todo o país, como explica Robert. “A região é fantástica. Corro há muitos anos lá e o entorno do parque permite que você, no mesmo dia, tenha obstáculos pesados, como de pedras, areia e pasto. Você anda 50 vezes no ano em Ibitipoca e poderá andar 50 vezes em locais diferentes. Descobre trilhas novas. Durante o levantamento, o Manoel (Resende, coordenador geral do IOR), que conhece bem a região, tem esse olhar para descobrir trilhas e procurar desafios que sabe que o pessoal vai gostar. Quem faz o IOR vem para um sofrimento bom, de prazer. E é o que me agrada e me desafia.”

Na chegada, domingo (5), o público verá a felicidade de pilotos como Robert na Suprema, que recebe também atrações como show de sertanejo universitário de Felipe Marques, além do Duo Retrô Acústico com pop rock dos anos 70, 80 e 90.

Recorde de inscritos e fila de espera
A procura para participar do 29º IOR foi tamanha que a prova bateu recorde de inscritos, com 500 participantes nas motos e até fila de espera. A largada, inclusive, foi antecipada para começar às 7h, e não 7h30, pelo elevado número de pilotos. Segundo o coordenador Manoel Resende, “percebemos não só pelo limite do número de materiais como GPS, mas na hora de concluir a logística do evento, que o número já está em excesso. Na prova de regularidade os pilotos não largam juntos, mas de 20 em 20 segundos. E quando o último piloto largar na Suprema, o primeiro já terá chegado em Lima Duarte. E quando esse último estiver em Lima Duarte, o primeiro que largou já vai ter finalizado o dia 1 em Ibitipoca. Serão 2h40min largando motos, com o último chegando por volta de 17h40, praticamente de noite, o que complica às vezes para nós em caso de resgate. Tudo faz parte do contexto para limitarmos as vagas. Tanto é que a prova é dividida em um momento em que os mais experientes pegam um percurso mais difícil e os menos experientes um trajeto mais simples e curto.”

Trecho do 1º rali retorna após 28 anos
Coordenador geral do IOR e profundo conhecedor das trilhas de toda a região, Manoel Resende revelou ter passado por um desafio agradável desde a última edição. A solução foi encontrada na primeira edição do evento. “No ano, todos elogiaram muito a prova, o que nos deixou com um grande desafio de fazer uma prova tão legal quanto a de 2017. E nos levou a buscar uma região que usamos no primeiro rali, há 28 anos. Uma região fechada pelo proprietário. Negociei, conversei com ele e consegui colocar esse trecho de novo na prova. E a pessoa que veio fazer o último simulado da prova achou a parte mais bonita. A natureza é bem legal, com terrenos que variam entre areia, pedra, barro… é um trecho relativamente pequeno em relação à prova toda, de 20km, mas que consegue reunir todo tipo de terreno e uma vegetação variada com candeias (árvore). Outra coisa legal é que a região tem muitas cachoeiras que eram escondidas em outras épocas”, revela Manoel, mantendo o mistério sobre onde fica o local.

A prova também se destaca pela demanda física aos participantes. Filho de Manoel e também coordenador do evento, Thiago Resende conta que será uma das provas mais longas da história, de mais ou menos 200km no primeiro dia e 220km no segundo em alto nível técnico para as categorias mais experientes nas motos. “Vão ser mais ou menos oito horas de provas por dia, e achamos que os pilotos irão chegar bem cansados na Suprema. E nos carros teremos muitos circuitos fechados e balaios (quando piloto e navegador têm que passar pelo mesmo local mais de uma vez para ver se estão atentos às planilhas).”

Se o cansaço é certo, os pilotos também podem esperar visuais inesquecíveis. “Eu competi durante vários anos, então o que eu via e o que queria sentir competindo é o que coloco na prova. Gostava de desafios, dificuldades, não intransponíveis, mas com médias altas para uma boa adrenalina. E dar oportunidade de as pessoas contemplarem a beleza da região com os chamados neutros técnicos, quando os pilotos param por um, dois minutos e conseguem apreciar a vista. No entorno de Lima Duarte às vezes subimos muito rapidamente de altitude e você consegue, em alguns pontos, ter uma visão de quase 360 graus que deixa as pessoas maravilhadas”, antecipa Manoel.

Principal categoria terá dois juiz-foranos
Os juiz-foranos também poderão torcer na principal disputa do IOR, a categoria master entre as motos. Isto porque, após cerca de uma década, de acordo com Manoel Resende, dois atletas da cidade foram inscritos para a competição que reúne alguns dos melhores pilotos do país, como o profissional Jomar Grecco, atual tetracampeão master. Breno Rezende, 36, e Thiago Procópio, 24, terão a árdua missão de correr nas trilhas mais técnicas da prova representando Juiz de Fora.

Correr em casa, para Breno, pode ser um diferencial em uma disputa que buscou participar desde criança. “Será a minha primeira vez na master, no ano passado ganhei a sênior. Não sou obrigado pela minha idade, tenho mais que 35 anos, mas desde molequinho ficava babando nos caras da master, e chegou a minha vez. Vamos ver o que vai dar, almejar resultado é complicado porque correr nessa categoria é muito difícil, com pilotos profissionais, o que na hora diferencia muito. Mas estamos dentro de casa, já sabemos dos caminhos e tentaremos nos aproveitar disso”, avalia.

A vontade de estrear na master do IOR é tanta que nem mesmo um dedo quebrado impossibilitou o engenheiro Thiago de entrar em ação no próximo fim de semana pela nona vez no evento. “Ando desde criança e comecei a competir aos 16 anos, minha família sempre foi do mundo do off road. Para mim é a maior prova do Brasil. O IOR já é renomado, desafiante pelo nível técnico e assim será na master. Um percurso complexo. Mas por estar em casa, acredito que temos alguma vantagem. Apesar do nível técnico dos profissionais ser bem diferente do nosso, vou buscar um pódio na raça. Quebrei o dedo do pé há um mês e só vou disputar porque é o Ibitipoca Off Road mesmo.”

Proprietário de oficina, Breno acumula ainda experiências nos carros não só no IOR, como em todo o país, como navegador. O piloto local faz questão de participar pela sexta vez da prova nas motos. “Corro o Brasil todo em rali de carro e é difícil encontrar uma prova com tamanha organização como a daqui. Além de ter esse carinho todo, estamos beneficiados pela região com trilhas maravilhosas e conseguem melhorar mais a cada ano. Em 2017, 100% dos pilotos elogiaram o evento, e nesse ano prometem uma prova tão boa quanto. Isso reflete nesse número alto de inscrições. É com certeza a maior prova do Brasil.”

Por Bruno Kaehler

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